Sunday, February 25, 2007

jonas silva na galeria jup



FORMA CITA jonas silva




Relações Convenientes.



O trabalho de Jonas assenta numa questão base, a interdependência de diferentes elementos num conjunto. A procura de estabelecer relações , de encontrar um equilíbrio dinâmico que relaciona partes em mutação, processa-se tanto a nível formal pictórico ou escultórico como na relação das várias peças expostas, na relação das peças com o observador, assim como nos temas que aborda.

Podemos entender cada pintura, desenho ou escultura como um corpo, tanto pela intersecção de formas independentes numa mancha única, no caso da pintura e desenho centralizada no formato da tela, que se observa na maioria dos trabalhos, como pelas relações narrativas entre as peças do conjunto que se tornam membros ou órgãos em funcionamento como uma engrenagem.
Este corpo é híbrido, é uma mistura metamórfica do ser humano-animal-máquina-vegetal, ligações pouco naturais feitas por pedaços de um e de outro corpo, por mecanismos de mistura e substituição. Temas que reflectem problemáticas sociológicas e éticas do funcionamento da sociedade e são, aqui, tratadas ora de forma mais equilibrada, ora mais violenta e visceral.
A ambiguidade nas formas deixa ao espectador a tarefa de imaginar como funciona cada engrenagem, e acentua o carácter vivo e móvel do conjunto.
Aliás, nunca existe "o conjunto", existe sempre relações móveis e diferentes forças nómadas, fluídos que vão delineando um conjunto que não é completo nem fixo. Características estas que resultam, principalmente na sua pintura, de um processo do fazer e refazer que deixa algumas formas já sumidas, outras evidentes e algumas apenas delineadas. Hierarquiza, assim, várias peças do conjunto visual, tornando-se evidente a energia e movimento do "conjunto".
A peça onde isso mais se revela será "...." escultura de arame e silicone, devido às suas formas translúcidas, abstractas e dinâmicas, corporiza apenas o funcionamento da própria peça, aqui, tema e forma são um só, a peça revela-se a si própria.

Assumindo uma atitude descontraída e despretensiosa Jonas trabalha nas suas "máquinas orgânicas" em séries. Apresenta-nos uma linguagem figurativa mas tendendo formalmente para o abstracto, gestualista e com algumas influências da arte urbana (no que toca a dimensão, formato e intenções sociais), finalmente é um todo orgânico e narrativo que deixa ao espectador a sua conclusão, outra das relações implícitas no seu trabalho, a relação do espectador com a, neste caso, "obra aberta".




sara pereira