Tuesday, December 18, 2007

"READY SHOWED" POR SAMUEL SILVA

GRANDE TÍTULO!

Entrevista a Samuel Silva natural de Vale do Ave, licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Frequenta o 2º ano de Mestrado de Práticas Artísticas Contemporâneas e até sabe o nome do discípulo do Miguel Ângelo !


Forma Cita: Acerca da natureza do teu trabalho já nos apercebemos de um processo comum nos raciocínios que nos tens apresentado. Obedecem a uma metodologia específica e frequente?

Samuel Silva:Tomando uma visão restrospectiva dos últimos prjectos que tenho desenvolvido, penso que não posso inscreve-los numa linha de natureza comum. Seria um acto agressivo. Existe demasiado essa pretensão, o de procurar pontos de referência comuns que nos permitem engavetar determinado artista, inscrevê-los num determinado território. Cada trabalho tem as suas especificidades, ilustram determinados momentos de reflexão, formalizam-se inclusivé em meios e linguagens diferentes. Agora claro, numa última circunstância é a mesma pessoa a pensar.

FC: Mas talvez ao nível metedológico, parece-nos que o teu trabalho passa muito pelo momento da investigação, sobre o qual ele se desenvolve posteriormente. O postal, por exemplo…

SS: Gostei muito desse projecto. Quando descobri esse postal na feira de kasimierz (parte judía da cidade de Cracóvia) intressou-me sobretudo a possibilidade de nós enquanto criadores, poder-mos efabular um objecto, podendo injectar novos sentidos e valores a estes, especialmente quando estes são comezinhos e insignificantes. Relativamente ao meu método de trabalho, este reivindica sempre uma necessidade de amadurecimento da ideia à priori do confronto com os materiais que lhe resistem e a irão formalizar. São opções. No entanto, existem perigos, uma investigação demasiadamente informada e referenciada pode-nos conduzir a uma vivência do mundo pelos outros.

FC: Assim como acabaste de dizer também já tinhamos reparado que te involves e procuras conhecer o trabalho de muitos outros autores, nomeadamente através da citação de ideias que estes desenvolveram no campo mais teórico. Isso tornou-se algo recorrente no meio artistico, o trabalho é justificado pela referência. Concordas?

SS: Nenhum de nós tem uma opinião própria. Somos uma espécie de esponjas, que a partir do material a que vamos acedendo criamos a nossa opinião. É na digestão dessas informações que defecamos a nossa. Para além disso, os objectos que produzimos convocam sempre o conhecimento e sensibilidade do outro, e aí sofrerão inevitávelmente de leituras que se fundamentam nas associações livres. De repente, ouvimos: “Olha um à la Felix González Torres!”.

FC: Mais especificamente queres falar-nos um pouco do trabalho que esperas desenvolver nesta exposição?

SS: Interessa-me este espaço, como um local neutro, para ensaio de novas possibilidades. O momento expositivo é sempre uma espécie de fotografia do que estamos a pensar em determinado momento. As minhas últimas preocupações prendem-se com a questão da condição do documento na relação com a práctica artística actual. No meu entender assistimos hoje a uma emancipação e urgência do acto de registo do objecto estético, talvez por uma necessidade de resposta face à proliferação de novas plataformas expositivas: catálogos, revistas de artes, a www, os portfólios digitais, a publicidade, para além dos convêncionais museus e galerias. Existe palco para além do white cube (risos). Muitas vezes expomos para meia dúzia de gatos pingados que são nossos amigos. A consciência da efemeridade do momento expositivo, leva-nos a uma situação de criação para o cheese!!!!... do momento fotográfico. Daí podermos falar de fotogenia.

FC: Eleva-se então o Registo/Documento a um patamar de Prova. A Prova é uma possibilidade artística?

SS: (risos) A natureza do documento é, de facto, substitutiva e provatória. No entanto esta nunca pode substituir a obra de arte. Esta questão remeto-nos para a discussão estética dos anos 60. O Walker Evans distingue bem esta situação. Ele diz-nos que o documento é útil e a arte inútil, nunca um documento pode ser eleito como forma artística, no entanto a arte pode adoptar um estilo documental. Toda a arte conceptual utilizou a fotografia no estilo documental.

FC: Esta entrevista será ela própria um documento, sentes-te confortável com isso?

SS: (risos) Tenho de ter cuidado com o que digo. O discurso de um autor pode ser entendido como uma demonstração artística.
Ad Reinhardt no seu discurso, por vezes era desconcertante, utilizava a llinguagem de uma forma performativa mas que de certa maneira acrescentava novas leituras sobre o seu trabalho. Pollock, respondia com uma ou duas frases, o que também tinha que ver com a sua atitude.
O formato de uma entrevista que acompanha a exposição, pode servir como um mecanismo de interferência sobre, age em género de descodificação daquilo que á apresentado. Por outro lado, assume a condição de documento, uma espécie de alter-ego que informa e que efectiva.
Não me interessa descodificar o trabalho. A entrevista vale de uma outra forma.

FC: Porquê ready-showed ?

SS: Interessa-me pensar sobre as fronteiras e contingências da arte. A possibilidade do “quase não arte”, a iminência de um mero exercício tautológico. O confronto de um registo documental de uma exposição passada, com os materiais que a construiram, devolvidos ao estado iniciático de matéria prima, que no seu conjunto edificaram um novo corpo estético. Ou num outro momento, o registo nostálgico do espaço, um estado pós-exposição, a poesia da ruína, do vestígio das cicatrizes, a ausência de um corpo que foi “desalmado” pelo seu registo.

FC: O que é que te leva a pensar nestes assuntos?

SS: Existem momentos na nossa vida, viagens, leituras, festas, onde somos confrontados, aliás, atropelados por certas situações que nos provocam perplexidade.
Exemplo. Num magusto em casa do Carlos Barreira deparei-me no seu atelier com uma obra, “a máquina de bater palmas” que estava em processo de restauro. De facto o que estava a dirigir a reconstrução da peça era uma fotografia desta dos anos 70 colocada com fita-cola na parede, curioso era, o facto, de ele não poder restaurar a parte de trás da obra, precisamente porque só tinha registado a vista frontal do objecto. Outro caso, será por exemplo, ter assistido à montagem de um trabalho de Robert Morris em Serralves onde os feltros que constituiam a obra estavam dispostos no chão, uma fotografia documental da obra dos anos 60 também colocada na parede com fita cola dirigia a montagem e congregação destes materiais. A fotografia como manual de instruções, a submissão do objecto real perante o seu documento. São situações (leit-motivs) que me inquietam.


FC: O prolonongamento da obra , nomeadamente pela citação e pela documentação é cada vez mais real o que achas?

SS:A obra não acaba no momento em que é apresentada. Por vezes obras mal recebidas são posteriormente alimentadas com outros sentidos. Tornando-se mais interessantes ou até validadas para a comunidade artística. O Pierre Bourdieu diz que o objecto artístico não se conclui no momento em que é exposto, talvez seja esse o inicio da obra, da poesia.
Por exemplo, uma história curiosa, nós tinhamos no acervo da FBAUP um desenho de Miguel Ângelo, um dia veio o Phillip Poncey, para se certificar se o desenho era verdadeiro. Chegou-se à conclusão que afinal era de um seu discipulo Girolamo Da Carpi. O prejuízo que o senhor Poncey deu à faculdade...

Thursday, May 31, 2007

Sunday, March 04, 2007

Friday, March 02, 2007

FORMA CITA acervo

FORMA CITA a melhor exposição do bairro

Inaugura sábado, dia 3 de Março e termina dia 20 do mesmo mês.
Espaço JUP nº 187 da rua Miguel Bombarda no Porto
A melhor exposição do bairro.

FORMA CITA

Mariana Caló
Helena Menino
Francisco Queimadela
Francisco Eduardo
Miguel Leal
Sara Pereira
Jonas Nobre
Sérgio Couto
Albino Tavares
João Marçal
João Marrucho
Joseph Beuys
João Paulo Feliciano
Pedro Cabrita Reis
Isabel Carvalho
Richard Long
Telmo Sá
Pedro André
Miguel Carneiro
Felix Gonzalez Torres
Ana Baliza
André Sousa
Ana Ribeiro
Dinis Santos
Marta Bernardes
Sr.Guimarães
Marco Mendes
José Cardoso
José Peneda
Samuel Silva
Mafalda Santos
Eduardo Matos
Miguel Marinheiro
Mário Moura
...seleccionados dos acervos de gente importante:

Francisco Queimadela & Mariana Caló
Francisco Eduardo & João Marrucho
Sergi Couth
(up) arte

Prometemos ainda tentar arranjar uma Christy ou uma Silvie.

Vinho do Porto

Sunday, February 25, 2007

jonas silva na galeria jup



FORMA CITA jonas silva




Relações Convenientes.



O trabalho de Jonas assenta numa questão base, a interdependência de diferentes elementos num conjunto. A procura de estabelecer relações , de encontrar um equilíbrio dinâmico que relaciona partes em mutação, processa-se tanto a nível formal pictórico ou escultórico como na relação das várias peças expostas, na relação das peças com o observador, assim como nos temas que aborda.

Podemos entender cada pintura, desenho ou escultura como um corpo, tanto pela intersecção de formas independentes numa mancha única, no caso da pintura e desenho centralizada no formato da tela, que se observa na maioria dos trabalhos, como pelas relações narrativas entre as peças do conjunto que se tornam membros ou órgãos em funcionamento como uma engrenagem.
Este corpo é híbrido, é uma mistura metamórfica do ser humano-animal-máquina-vegetal, ligações pouco naturais feitas por pedaços de um e de outro corpo, por mecanismos de mistura e substituição. Temas que reflectem problemáticas sociológicas e éticas do funcionamento da sociedade e são, aqui, tratadas ora de forma mais equilibrada, ora mais violenta e visceral.
A ambiguidade nas formas deixa ao espectador a tarefa de imaginar como funciona cada engrenagem, e acentua o carácter vivo e móvel do conjunto.
Aliás, nunca existe "o conjunto", existe sempre relações móveis e diferentes forças nómadas, fluídos que vão delineando um conjunto que não é completo nem fixo. Características estas que resultam, principalmente na sua pintura, de um processo do fazer e refazer que deixa algumas formas já sumidas, outras evidentes e algumas apenas delineadas. Hierarquiza, assim, várias peças do conjunto visual, tornando-se evidente a energia e movimento do "conjunto".
A peça onde isso mais se revela será "...." escultura de arame e silicone, devido às suas formas translúcidas, abstractas e dinâmicas, corporiza apenas o funcionamento da própria peça, aqui, tema e forma são um só, a peça revela-se a si própria.

Assumindo uma atitude descontraída e despretensiosa Jonas trabalha nas suas "máquinas orgânicas" em séries. Apresenta-nos uma linguagem figurativa mas tendendo formalmente para o abstracto, gestualista e com algumas influências da arte urbana (no que toca a dimensão, formato e intenções sociais), finalmente é um todo orgânico e narrativo que deixa ao espectador a sua conclusão, outra das relações implícitas no seu trabalho, a relação do espectador com a, neste caso, "obra aberta".




sara pereira